domingo, 22 de maio de 2011

O turco


Os cipriotas gregos elegem este domingo 22 de Maio a composição do Parlamento de Chipre, uma ilha que desde 1974 está dividida em duas partes, a República de Chipre e a República Turca de Chipre do Norte após a invasão da Turquia daquela área culminando 11 anos de violência entre os cipriotas gregos e turcos desde a independência em 1960, da potência colonial o Reino Unido. Entre 1878 e 1960 Sua Majestade britânica exerceu sobre esta ilha do Mediterrâneo o poder colonial que lhe foi entregue no Congresso de Berlim organizado por um senhor de nome Otto Von Bismarck. Este Congresso de Berlim deu origem ao Tratado de Berlim que designou o Reino Unido como potência administrante da ilha de Chipre até 1960, como vimos, data em que Chipre, Grécia e Reino Unido assinam um tratado declarando a independência de Chipre, ficando os britânicos com a soberania das bases de Akrotiri e Dehkelia que já detinham há vários anos e continuam a deter até hoje, ao que parece ninguém se lembrou que na ilha também havia, além de cipriotas gregos, cipriotas turcos que ascendem a uma população de cerca de um milhão de pessoas, contando com os cipriotas turcos que estão actualmente espalhados pelo mundo, mas a pátria de Sua Majestade sempre teve destas coisas, basta olharmos para África e para as fronteiras traçadas a régua e esquadro para se entender esta displicência. A República Turca do Chipre do Norte manteve a sua capital em Nicósia que é também a capital da República do Chipre pelo que foi dividida por um muro, onde passa a denominada linha verde que é vigiada por soldados das Nações Unidas, tal como o resto da fronteira entre as duas repúblicas sendo a República do Norte reconhecida apenas pela própria Turquia.

Os turcos são um povo que ao longo dos anos se têm vindo a modernizar, pelo menos segundo os nossos padrões ocidentais. Quem hoje tiver a oportunidade de visitar a nação turca verá um país em que dificilmente se verão marcantes diferenças entre a Europa e este seu vizinho euro-asiático sendo a parte europeia do território restos de um enorme e grandioso império otomano que fez frente às potências ocidentais na I Grande Guerra. O obreiro desta moderna Turquia foi sem dúvida Mustafah Kemal Attaturk, herói de Galipoli que tomou as rédeas do país em Outubro de 1923 tornando um país que até aí se via como súbdito muçulmano de um vasto império, numa nação independente, laica e democrática. O país é hoje administrado pelo senhor Recep Tayyp Erdogan, primeiro ministro de um governo do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) e nos últimos tempos tem andado nas bocas do mundo por causa de um escândalo de cariz sexual que desabou sobre a oposição, o Partido de Acção Nacionalista (MHP), com vídeos destas actividades publicadas por um site na internet e que já originou a demissão de seis líderes deste partido e aquele site ameaça publicar ainda mais vídeos até que todos os líderes do MHP se demitam. Este partido vem alegando que terão caído numa armadilha do AKP (onde é que eu já ouvi isto?) e os líderes demissionários tê-lo-ão feito para “poupar o partido aos danos que tais acusações podem causar”. Resta sobre este assunto dizer que em Junho haverá eleições na Turquia e, se o MHP obtiver menos de 10% dos lugares ficará afastado do Parlamento permitindo ao AKP ter a oportunidade de obter uma maioria de 66% e assim rever a constituição sem convocar um referendo. Ao que parece os turcos estão a seguir a moda dos seus vizinhos ocidentais, usar as “fraquezas” dos políticos contra eles próprios desta vez sem acusados presos a bordo de aviões ou empregadas de hotel, vamos ver até onde vai esta história.

Estas eventuais “estratégias” políticas fizeram-me lembrar as misérias cá de casa. Temos vindo a assistir nos últimos tempos aos debates entre os nossos líderes de partidos políticos com assento parlamentar sendo que, segundo também ouvimos, a intenção é o esclarecimento dos votantes do dia 5 de Junho apresentando e discutindo as propostas para que o eleitorado seja esclarecido e possa tomar uma opção naquele dia. Temos visto também os comentadores de serviço darem a sua opinião sobre quem ganhou o debate, como se estivéssemos a falar de uma partida de futebol, ou de um jogo de hóquei patins lançando sobre as pessoas a sensação de que há vencidos e vencedores nestes debates e acicatando a clubite partidária que facilmente se converte no mais primário sentimento de qualquer claque caceteira e desbragada. Ouvimos os debates, pois ouvimos. Mas o que nos foi dado ouvir foram acusações, defesas, estratégias, uns com mais jeitinho outros com menos, uns mais bem treinados outros nem tanto, uns mais aprumadinhos outros mais populistas mas sobre Portugal nada. Não sei se alguém teve a oportunidade ou tempo ou paciência de ler o relatório que o Banco de Portugal publicou e que veio a público esta semana, quem o leu certamente ficou aterrorizado. Vamos, dentro de muito pouco tempo ter “uma contracção sem precedentes do rendimento real das famílias” é uma das frases que por lá se vê, ou seja dentro de muito pouco tempo as coisas vão ser tremendas para a grande parte das famílias portuguesas, eu diria serão de um dramatismo que no nosso tempo de vida não se terá nunca visto, as pessoas vão passar um mau bocado a sério e pelos vistos ainda não se deram conta disso. Entretanto os nossos políticos vêm para as televisões desfiar as suas mágoas defendendo-se e acusando-se num jogo de arrepiar, sem que a tão propalada verdade sobre o que nos espera a curto, curtíssimo, espaço de tempo tenha sido falada. E os comentadores dedicam-se a esta fantástica actividade que é convencer as pessoas que este ou aquele político venceram o debate. Talvez tenham vencido o jogo, talvez tenham usado uma estratégia bem delineada, talvez tenham conseguido driblar o adversário, mas então e Portugal? Ou o que conta realmente é aparecer nas televisões a dizer várias coisas, mas aparecer? Houve um político da nossa praça que aqui há uns anos disse algures num dos jornais da época – “Digam mal ou bem de mim, o que importa é que falem”. Quer-me parecer que é este o caso, falem deles, dos debates ganhos ou perdidos, das gravatas que usam (ou não), de serem mais isto ou aquilo ou de terem chegado à televisão de carro, de eléctrico ou a pé. O que é preciso é que falem, já os 125 mil milhões que vamos ter de pagar em seis anos (sim, cento e vinte e cinco mil milhões) é coisa de pouca monta, e pelos vistos nenhum tem soluções e as soluções que interessam é não dizer a todos nós como é que vai ser num jogo de sombras sem futuro mas com muito presente, o que vai acontecer no dia 6 de Junho logo se verá que afinal somos portugueses e enquanto o pau vai e vem folgam as costas.

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