segunda-feira, 16 de maio de 2011

O francês


E lá prenderam o homem! Dominique Strauss-Kahn, director do FMI foi preso no aeroporto John Kennedy a bordo de um avião da Air France quando se preparava para partir para Paris. Segundo um sorridente (e trapalhão) polícia americano nos disse nos telejornais foi acusado de agressão sexual, violação e sequestro, depois de uma empregada do hotel Sofitel, em Nova Iorque, se ter queixado de que foi obrigada a fazer sexo oral e ter sido sodomizada (sic) pelo agora acusado director do FMI. Pelo que ficamos também a saber o homem tinha alguma apetência por actos sexuais complicados, uma jornalista apareceu agora a acusa-lo de, num encontro qualquer ele lhe ter tirado o soutien e tentado viola-la (apareceu agora...), em 2008 uma sua subordinada de nome Piroska Nagy (nome curioso, sem dúvida...), responsável pelas operações em África do FMI terá também sofrido os avanços deste sátiro, embora posteriormente se tenha chegado à conclusão que foi uma relação consentida e até a mulher do senhor director, Anne Sinclair comentou na altura que se trataria de uma "aventura de uma noite" sem qualquer importância. Ora este senhor director do FMI era nem mais nem menos o putativo candidato à sucessão de Nicholas Sarkozy (aquele da Carla Bruni...) que as sondagens dizem que ganharia as eleições para o palácio do Elyseu com uma margem de 61%, contra 39% de Sarkozy, situação esta que nos põe a pensar em teorias da conspiração mais obscuras, conhecendo esta fraqueza do senhor Strauss-Kahn (Mário Soares dixit) nada mais fácil do que plantar uma capitosa empregada de limpeza e fazer o homem sair nú do banho (como deve ser lindo...) à espera dos favores de uma empregadinha de hotel. Não sei se foi assim e também nunca saberemos, o certo é que o sujeito tem a vida feita num oito e a carreira política arrumada, uma boa notícia para o senhor Sarkozy. Mas o que me mexeu cá com as meninges foi saber que o quartinho onde o senhor Strauss-Kahn se alojava tinha um custo diário de 2000€/dia, a sua apetência especial por uma vida luxuosa e lembrar-me dos títulos dos jornais há pouco tempo: "DSK defende violentas políticas de austeridade na Irlanda e na Grécia" ou " "Novo chefe do FMI inicia funções com o despedimento de 600 funcionários da instituição"  a que apetecia juntar um outro título mais recente: "Ajuda a países europeus aumentam lucros do FMI em 63%", estes 63% correspondem a cerca 370 milhões de euros (sem contar com os juros do empréstimo a Portugal), nada mau tendo em conta que vem de uma perda de cerca de 132 milhões de euros em 2008 e tem vindo sempre a subir de lucros, nada a fazer os tipos emprestam dinheiro e ganham que se farta com isso, faz lembrar aquela música de Alberto Janes de que a Amália fez um sucesso nos anos 70 em que: "....foi ao usurário empenhar umas coisinhas", e na verdade fico com a sensação que temos alguma culpa no ataque do senhor DSK à pobrezinha da empregada do hotel já que uma parte dos 2000€ que o homem pagava, por dia pelo quarto vai ser paga por nós. Não faço a mínima ideia do que teremos ido empenhar ao usurário, para além dos ordenados, das pensões, dos impostos, etc, etc e sobretudo quem é que lá foi empenhar as "coisinhas", não foram certamente os pensionistas ou as pessoas que trabalham, mais uma vez o sr. Henrique Monteiro põe bem claro o que todos sabemos no seu último artigo de opinião: - "Mas não foi com pensionistas ou trabalhadores que houve derrapagens e se cometeram excessos. Foram sim estradas, inúteis, projectos inúteis, consultadorias inúteis, propaganda inútil, e boys inúteis que deram cabo do país. Além de inúteis promiscuidades com banqueiros e especuladores, com empresas do regime, ditadorzecos vários, etc. - , que em nada contribuíram para o louvado Estado social e apenas minaram a coesão do país". Na verdade o que acontece é que as pessoas se vêm obrigadas a ter de pagar o dinheiro que o(s) Governo(s) desperdiçou, e agora, por muito que se pregue e reclame, por muito que a gente fale e se lamente a factura está aí não há volta a dar-lhe, vamos mesmo ter de pagar o modesto quartinho que o senhor DSK alugou no Sofitel de Nova Iorque. É claro que nestas coisas de austeridade e apertar o cinto e andarmos a contar os tostões há sempre a necessidade de ir preparando a cabeça das pessoas encontrando culpados e gastadores. Vem isto a propósito das pensões milionárias de que ciclicamente vimos ouvindo falar, em reportagens e comentários demagógicos e intencionalmente tendenciosos que a nossa comunicação social tão bem sabe trabalhar. Gostava que se definisse o que são pensões milionárias, falar de uma coisa que não tem definição apenas pelo seu valor monetário ou é ignorância ou má fé ou (o mais provável) as duas coisas juntas. Uma pensão milionária o que é ? É a pensão de alguém que descontou toda a vida no seu ordenado determinado valor para depois usufruir dele na altura da reforma ? É a pensão que alguém recebe por ter desempenhado funções em orgãos de soberania durante meia dúzia de anos - ou nalguns casos durante meses como já se viu ? Sempre pensei que o que as pessoas recebem na altura da sua aposentação iria ser o correspondente aquilo que descontaram durante a sua vida activa, ou seja quem desconta mais recebe mais e quem desconta menos recebe menos, parece-me um princípio básico, mas nada mais fácil do que fazer acreditar um país, onde as pensões médias rondam os 600€, que a culpa é dos que recebem pensões ditas milionárias como se estes andassem a roubar descaradamente à maioria dos portugueses o dinheiro das suas pensões. A talhe de foice, quando se definir o que são pensões milionárias gostaria também que se esclarecesse quanto pagam os contribuintes aos partidos para continuarem a existir como tal, qual é o valor que cada partido recebe do orçamento de estado, quanto paga cada um de nós para os políticos, fala-se muito dos desmandos da função pública, do uso incontrolado dos dinheiros dos contribuintes mas nunca se fala dos dinheiros dos partidos, afinal também eles funcionários públicos pagos com o dinheirinho de todos nós. Vá lá digam-nos quanto recebe cada partido na fatia que lhes cabe do orçamento de estado, e assim começamos a chegar à propalada transparência de tanto se ouve falar  e de que todos se gabam de ser os paladinos. Ou têm medo de ter de pagar, como o comum dos mortais, uma fatia do quarto do senhor Dominique Strauss-Kahn?

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