quinta-feira, 16 de junho de 2011

O mágico


Há dias assim, a gente levanta-se e parece que nesse dia o mundo se virou contra nós, aparecem contas inesperadas na caixa do correio, telefona aquele sujeito com quem não nos apetecia falar, o cão adoece, a empregada falta, a internet deixa de funcionar e por aí fora numa sucessão de acontecimentos nefastos e desanimadores, já não tenho borbulhas no rosto mas nesses dias parece mesmo que o mundo inteiro “se uniu para me tramar”. De vez em quando nenhum de nós escapa a estas partidas do destino (ou da nossa cabeça…) e fica completa a sopa de lamentações e auto comiseração que nos acompanha durante o dia.

Como todos nós ando preocupado com esta coisa das sandes de fiambre e o preço que vamos ter de pagar para lhes besuntar a manteiga e remeter para Bruxelas e Washington bem embrulhadinhas em papel de seda, as notícias que nos vão chegando não são propriamente fantásticas e só mesmo sendo cego, surdo e completamente obtuso não nos damos conta que daqui a uns meses a coisa vai ser um verdadeiro filme de terror cujo the end ninguém ou quase ninguém sabe quando vai aparecer no ecrã. A tradição fadista portuguesa habituada ao fado da desgraçadinha que andava no gamanço vai estar, ao que parece, confrontada com a mudança da letra da música e a desgraçadinha vai ter de passar a gamar menos, a viver com menos e a trabalhar mais por menos.

Neste início de tarde ouvimos e vimos os novos administradores da empresa Portugal a abraçarem-se e a dizer-nos que depois de tempos de “arrogância e crispação” é necessário que venham aí tempos de “moderação e acordo”. O que realmente era muitíssimo interessante era que tivessem definitivamente acabado os tempos da virtualidade, da inverdade, dos bem-falantes, dos oportunistas, dos corporativos, dos incompetentes e da propaganda e viessem aí tempos de transparência e verdade. A esta hora os boys roem as unhas à espera de um telefonemazinho reconfortante na ânsia de que tudo mude para ficar na mesma, se pelo menos estes novos administradores conseguirem cortar-lhes as unhas já não era nada mau. Ao que ouvimos nos discursos da praxe o que vem aí com esta nova administração são três palavras: coragem, moderação e mudança mas disse-se mais "Se fizermos tudo o que devemos, se governarmos para as próximas gerações e não para as próximas eleições e se conseguirmos que esta tenha sido a última vez que uma nação tão antiga e com uma história tão grande tenha sido sujeita a este pedido de ajuda externa, eu acho que cumprimos o nosso dever". Claro que quando uma administração começa a trabalhar há que dizer umas palavrinhas doces e adoçar a boca aos eleitores, basta recordarmo-nos dos discursos do anterior administrador em 2005 e 2009, para ir ao que é mais recente mas a diferença não é muita dos mais antigos, e logo se percebe que uma coisa são os discursos de protocolo nas posses e assinaturas de acordos e outra bem diferente são os actos que se vão praticando, se depois dos 100 dias de glória a que todos os governos têm direito, se vislumbrar que realmente tudo começa a mudar, e para melhor então teremos gente. Até lá vou esperar para ver, embora pouco ganhe com isso, seja com estes ou com outros o raio das sandes de fiambre e o quarto do senhor Strauss-Kahn no Sofitel vão ter de ser pagos quer a gente goste quer não, a minha esperança é que o cheque que assinamos no dia 5 de Junho seja usado melhor que os vales que passamos à anterior administração.