terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Hac Nobis: LEAKSDerepente lembrei-me do Sr. Arnold Schwar...

Hac Nobis: LEAKS



Derepente lembrei-me do Sr. Arnold Schwar...
: LEAKS De repente lembrei-me do Sr. Arnold Schwarzenegger, acho que se escreve assim… Com aquela cara quadrada olhou-nos, e atirou ...
LEAKS




De repente lembrei-me do Sr. Arnold Schwarzenegger, acho que se escreve assim… Com aquela cara quadrada olhou-nos, e atirou “I’m back”. Não tenho nada a ver com o Sr. Schwarzenegger a não ser ter visto alguns dos seus filmes, como a grande maioria de nós, mas é verdade, I’m back. Andei a escrevinhar no blog um tempo depois a vida, e a preguiça…, empurraram-me para outras coisas. Agora de repente deu-me na cabeça voltar a escrever no Hac Nobis. E deu-me na cabeça pela pressão que, sobretudo as televisões, nos têm posto em cima com a história da Sra. Isabel dos Santos.
Há anos que andamos a ouvir falar que em Angola se vivia uma cleptocracia (a inevitável sra. Ana Gomes, entre outros, dixit…) e agora, de repente, caiu o Carmo e a Trindade que a filha do ex-presidente de Angola tratou de se locupletar com o dinheirinho público e com isso fez uma fortuna que espalhou pelos quatro cantos do mundo comprando aqui e ali, empresas, quintas, casas e sei lá mais o quê. Até trataram de nos mostrar a casinha de 50 milhões de dólares que comprou no Mónaco. Bom, ótimo, ficamos todos a saber, segundo as televisões preto no branco, as falcatruas que se andam por aí a fazer e o uso que alguns ditos poderosos dão ao dinheiro que subtraem ao erário público para uso pessoal. E quando dão as notícias, lá vem a reboque a informação que foi um consórcio internacional de jornalistas que descobriu tudo e tratou de expor a público toda a tramóia. Eu não tenho nada contra jornalistas, muito pelo contrário, sobretudo os que fazem do seu trabalho uma actividade honesta e limpa. Curiosamente nas últimas notícias apareceu uma sobre uma empresa norte americana, de lobbying, a Sonoran Policy Group, que está ligada à campanha de Donald Trump e ao governo da Arábia Saudita.  Esta empresa terá como finalidade arranjar reuniões entre a empresária e acionistas nos EUA e Reino Unido. Além disso, tem também de aconselhar e garantir cobertura mediática para a filha do antigo Presidente angolano e, plantar notícias pagas em vários jornais internacionais. Ora andar a plantar notícias pagas não me parece ser uma notícia muito abonatória para os jornalistas… mas adiante.
Dou comigo a perguntar-me porque surgiu isto agora ? Este consórcio de jornalistas começou a ser falado, que me lembre, quando surgiu por aí a notícia dos Panamá Papers, lembram-se ? Houve um barulho danado e depois nada aconteceu, que eu saiba. A outra pergunta é como chegou a dito consórcio a esta papelada toda ? 715000 documentos é obra…. Andaram a cuscar os computadores da Sonangol e das empresas da Sra. Isabel dos Santos ? Ou alguém achou que era a altura ideal para lhes dar a documentação toda ?
Seja como for, se depois desta barulheira toda, se se conseguir provar que a Sra. Isabel dos Santos andou a fazer cambalachos e retirar dinheiro indevidamente dos cofres angolanos, a consequência lógica será pagar na justiça os actos que cometeu. Ainda muita água vai correr debaixo das pontes e muitos ratos tratarão de abandonar o barco, cá e lá. Esta coisa dos Luanda Leaks faz-me lembrar os acontecimentos logo a seguir ao 25 de Abril, em que se viam nos jornais anúncios de inúmeras pessoas a dizer que nunca foram da PIDE, nunca tinham ouvido falar na PIDE e tinham raiva de quem soubesse o que era a PIDE…, os ratos têm este péssimo hábito de se pirarem dos navios antes que se afundem.
E depois deste barulho todo espera-se que o consórcio de jornalistas apareça, de novo, com intensas e claras investigações sobre os mediáticos casos domésticos, eu pelo menos espero. Que apareçam mais 715000 documentos sobre os desvios de fundos cá de casa, dos bancos que serviram para um conjunto de ratos se abotoarem com o dinheiro que não lhes pertencia e todas as falcatruas que andamos a ouvir falar há anos sem que nada aconteça.
Pode ser que alguém ache que é altura ideal para entregar documentação a um consórcio internacional de jornalistas e de repente novo boom e furos jornalísticos mas desta vez, a mexer com os ratos domésticos, aqueles assim pequeninos que nos assaltam as dispensas e, para nos livramos deles, é uma boa chatice.
Vamos a isso caros amigos do consórcio internacional ?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O mágico


Há dias assim, a gente levanta-se e parece que nesse dia o mundo se virou contra nós, aparecem contas inesperadas na caixa do correio, telefona aquele sujeito com quem não nos apetecia falar, o cão adoece, a empregada falta, a internet deixa de funcionar e por aí fora numa sucessão de acontecimentos nefastos e desanimadores, já não tenho borbulhas no rosto mas nesses dias parece mesmo que o mundo inteiro “se uniu para me tramar”. De vez em quando nenhum de nós escapa a estas partidas do destino (ou da nossa cabeça…) e fica completa a sopa de lamentações e auto comiseração que nos acompanha durante o dia.

Como todos nós ando preocupado com esta coisa das sandes de fiambre e o preço que vamos ter de pagar para lhes besuntar a manteiga e remeter para Bruxelas e Washington bem embrulhadinhas em papel de seda, as notícias que nos vão chegando não são propriamente fantásticas e só mesmo sendo cego, surdo e completamente obtuso não nos damos conta que daqui a uns meses a coisa vai ser um verdadeiro filme de terror cujo the end ninguém ou quase ninguém sabe quando vai aparecer no ecrã. A tradição fadista portuguesa habituada ao fado da desgraçadinha que andava no gamanço vai estar, ao que parece, confrontada com a mudança da letra da música e a desgraçadinha vai ter de passar a gamar menos, a viver com menos e a trabalhar mais por menos.

Neste início de tarde ouvimos e vimos os novos administradores da empresa Portugal a abraçarem-se e a dizer-nos que depois de tempos de “arrogância e crispação” é necessário que venham aí tempos de “moderação e acordo”. O que realmente era muitíssimo interessante era que tivessem definitivamente acabado os tempos da virtualidade, da inverdade, dos bem-falantes, dos oportunistas, dos corporativos, dos incompetentes e da propaganda e viessem aí tempos de transparência e verdade. A esta hora os boys roem as unhas à espera de um telefonemazinho reconfortante na ânsia de que tudo mude para ficar na mesma, se pelo menos estes novos administradores conseguirem cortar-lhes as unhas já não era nada mau. Ao que ouvimos nos discursos da praxe o que vem aí com esta nova administração são três palavras: coragem, moderação e mudança mas disse-se mais "Se fizermos tudo o que devemos, se governarmos para as próximas gerações e não para as próximas eleições e se conseguirmos que esta tenha sido a última vez que uma nação tão antiga e com uma história tão grande tenha sido sujeita a este pedido de ajuda externa, eu acho que cumprimos o nosso dever". Claro que quando uma administração começa a trabalhar há que dizer umas palavrinhas doces e adoçar a boca aos eleitores, basta recordarmo-nos dos discursos do anterior administrador em 2005 e 2009, para ir ao que é mais recente mas a diferença não é muita dos mais antigos, e logo se percebe que uma coisa são os discursos de protocolo nas posses e assinaturas de acordos e outra bem diferente são os actos que se vão praticando, se depois dos 100 dias de glória a que todos os governos têm direito, se vislumbrar que realmente tudo começa a mudar, e para melhor então teremos gente. Até lá vou esperar para ver, embora pouco ganhe com isso, seja com estes ou com outros o raio das sandes de fiambre e o quarto do senhor Strauss-Kahn no Sofitel vão ter de ser pagos quer a gente goste quer não, a minha esperança é que o cheque que assinamos no dia 5 de Junho seja usado melhor que os vales que passamos à anterior administração.


segunda-feira, 30 de maio de 2011

O europeu




Em 12 de Junho de 1985 Portugal foi oficialmente admitido na Comunidade Económica Europeia (CEE), posteriormente Comunidade Europeia (CE) e finalmente União Europeia, com a assinatura da adesão a decorrer com pompa e circunstância no mosteiro do Jerónimos assim sendo comemoraram-se, em 2010, 25 anos da entrada de Portugal na associação de países que hoje formam a Europa Unida sonhada (enfim…) por Robert Schuman e Jean Monet quando propuseram a assinatura do tratado que originou, em 1951, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) a que aderiram seis países (França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo) dando origem a uma original comunidade de países numa Europa ainda dilacerada pela II Grande Guerra 1939/45. Na origem da CECA está a Autoridade Internacional para o Ruhr (AIR), uma entidade criada em 1949 pelos países acima referidos (menos a Itália e a Alemanha e com o Estados Unidos) visando esta entidade o controle da indústria do carvão e do aço no vale do Ruhr do pós-guerra, tendo a AIR sido integrada na CECA em 1951 pelo Tratado de Paris. Posteriormente, em 1957 os países da CECA e a Itália assinam o Tratado de Roma que institui a CEE, origem da actual União Europeia.

Naquele dia 12 de Junho assisti pela televisão à assinatura da formalização pelo Dr. Mário Soares e senti-me vaidoso, afinal tínhamos conseguido ser europeus à séria e tudo ia melhorar por cá íamos ser iguais aos franceses ou aos alemães, ganhar o mesmo que eles, comprar carros fantásticos ao preço da chuva, extraordinário, tudo ia mudar !!! Mesmo aquela coisa da senhora Teresa Ter-Minassien ter cá vindo, uns anitos antes, em nome do FMI negociar um empréstimo de 750 milhões de dólares já era, agora na CEE é que ia ser, é verdade a senhora Minassien fez para lá umas coisas e tiraram-nos o subsídio de férias (naquele ano…), tudo ficou mais caro a vida ficou mais difícil durante um tempo mas quem é que se importava com isso se já éramos europeus ? Fomos andando cantando e rindo (onde é que já ouvi isto…?) até que num Maio solarengo a convidar à modorra zás !!!! Aí estão eles outra vez desta vez em trio, a senhora Minassien deve estar já com uma pequenina reforma numa casinha de três assoalhadas ali para os lados da Brandoa e não pôde vir, mas vieram cá aqueles tipos que adoram sandes de fiambre e que afinal não são três mas sim quatro (Jürgen Kröger, Rasmus Rüffer, Poul Thomsen e Massimo Suardi), esta amável visita levou, pelo que sabemos, ao empréstimo de 78 mil milhões de euros e quem empresta uma quantiazinha destas quer garantias - os homens trataram de fazer um programa de governo e disseram que ou a gente se porta bem ou na próxima visita vão explicar que as massas não são para nomear boys ou criar institutos e fundações ou ainda fazer um favorzinho a uma qualquer corporação pressionante – puseram ao documento de dívida (lembram-se daquelas letras que a gente assinava para comprar um carrito?) o delicado nome de memorando de entendimento e agora além de todos termos de pagar o dinheirito alguém terá de gerir o tal memorando de entendimento caso contrário vêm cá buscar-nos os carros, os plasmas, os psichés, os cromo níqueis, etc., etc., eu cá por mim já pus tudo em nome de um primo meu que é taxista no Burkina Faso, pelo menos quando me aparecerem cá em casa os tipos das cobranças nada daquilo é meu, só uso enquanto o meu primo andar lá fora a fazer pela vida. Ora esse alguém anda por aí nas ruas segundo parece a esclarecer o povo das suas propostas para governar Portugal nos próximos tempos, ou devia andar a fazer isso… O que temos visto é uns senhores roucos que se vão entretendo a dizer mal uns dos outros, jogando um jogo de estratégias e de enganos e a fazer apelos aos votos aqui ou ali, falar do que aí vem é que nem pensar que a coisa é incómoda e lá se vão os papelinhos que querem que as pessoas metam nas urnas (um nome a condizer com os tempos que atravessamos) todos querem o bem dos portugueses, todos defendem o Estado social, todos são paladinos da verdade, mas nenhum falou das exigências a que o documento obriga nem dos timings em que essas exigências têm de ser cumpridas, nem do que vai acontecer ao comum dos mortais nem de nada, sobre Portugal disseram nada. Parece que nos enganamos todos de país e afinal Portugal é um pingo minúsculo no mapa da Europa bem longe de nós, daqueles que a gente ouve falar nos telejornais e até nem sabe muito bem onde são. Também afinal não tenho de me admirar, a coisa está feita, pouparam um trabalhão aos políticos que de outra maneira iam ter de inventar um programa que ninguém lê e assim é aquilo e ponto final, a dúvida é como é que vai ser feito, a gente já sabe que vamos ficar mais leves da carteira e que a vida vai ser infernal para muitos mas como é que isso se vai fazer é que não fazemos ideia e, pelos visto só vamos ficar a saber à medida que os bolsos forem ficando mais arejados.

Na próxima semana o meu primo vem cá de férias, se alguém precisar de uma mãozinha a mudar o nome das suas coisitas é só dizerem, afinal temos de ser uns para os outros e irmo-nos safando não é?

domingo, 22 de maio de 2011

O turco


Os cipriotas gregos elegem este domingo 22 de Maio a composição do Parlamento de Chipre, uma ilha que desde 1974 está dividida em duas partes, a República de Chipre e a República Turca de Chipre do Norte após a invasão da Turquia daquela área culminando 11 anos de violência entre os cipriotas gregos e turcos desde a independência em 1960, da potência colonial o Reino Unido. Entre 1878 e 1960 Sua Majestade britânica exerceu sobre esta ilha do Mediterrâneo o poder colonial que lhe foi entregue no Congresso de Berlim organizado por um senhor de nome Otto Von Bismarck. Este Congresso de Berlim deu origem ao Tratado de Berlim que designou o Reino Unido como potência administrante da ilha de Chipre até 1960, como vimos, data em que Chipre, Grécia e Reino Unido assinam um tratado declarando a independência de Chipre, ficando os britânicos com a soberania das bases de Akrotiri e Dehkelia que já detinham há vários anos e continuam a deter até hoje, ao que parece ninguém se lembrou que na ilha também havia, além de cipriotas gregos, cipriotas turcos que ascendem a uma população de cerca de um milhão de pessoas, contando com os cipriotas turcos que estão actualmente espalhados pelo mundo, mas a pátria de Sua Majestade sempre teve destas coisas, basta olharmos para África e para as fronteiras traçadas a régua e esquadro para se entender esta displicência. A República Turca do Chipre do Norte manteve a sua capital em Nicósia que é também a capital da República do Chipre pelo que foi dividida por um muro, onde passa a denominada linha verde que é vigiada por soldados das Nações Unidas, tal como o resto da fronteira entre as duas repúblicas sendo a República do Norte reconhecida apenas pela própria Turquia.

Os turcos são um povo que ao longo dos anos se têm vindo a modernizar, pelo menos segundo os nossos padrões ocidentais. Quem hoje tiver a oportunidade de visitar a nação turca verá um país em que dificilmente se verão marcantes diferenças entre a Europa e este seu vizinho euro-asiático sendo a parte europeia do território restos de um enorme e grandioso império otomano que fez frente às potências ocidentais na I Grande Guerra. O obreiro desta moderna Turquia foi sem dúvida Mustafah Kemal Attaturk, herói de Galipoli que tomou as rédeas do país em Outubro de 1923 tornando um país que até aí se via como súbdito muçulmano de um vasto império, numa nação independente, laica e democrática. O país é hoje administrado pelo senhor Recep Tayyp Erdogan, primeiro ministro de um governo do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) e nos últimos tempos tem andado nas bocas do mundo por causa de um escândalo de cariz sexual que desabou sobre a oposição, o Partido de Acção Nacionalista (MHP), com vídeos destas actividades publicadas por um site na internet e que já originou a demissão de seis líderes deste partido e aquele site ameaça publicar ainda mais vídeos até que todos os líderes do MHP se demitam. Este partido vem alegando que terão caído numa armadilha do AKP (onde é que eu já ouvi isto?) e os líderes demissionários tê-lo-ão feito para “poupar o partido aos danos que tais acusações podem causar”. Resta sobre este assunto dizer que em Junho haverá eleições na Turquia e, se o MHP obtiver menos de 10% dos lugares ficará afastado do Parlamento permitindo ao AKP ter a oportunidade de obter uma maioria de 66% e assim rever a constituição sem convocar um referendo. Ao que parece os turcos estão a seguir a moda dos seus vizinhos ocidentais, usar as “fraquezas” dos políticos contra eles próprios desta vez sem acusados presos a bordo de aviões ou empregadas de hotel, vamos ver até onde vai esta história.

Estas eventuais “estratégias” políticas fizeram-me lembrar as misérias cá de casa. Temos vindo a assistir nos últimos tempos aos debates entre os nossos líderes de partidos políticos com assento parlamentar sendo que, segundo também ouvimos, a intenção é o esclarecimento dos votantes do dia 5 de Junho apresentando e discutindo as propostas para que o eleitorado seja esclarecido e possa tomar uma opção naquele dia. Temos visto também os comentadores de serviço darem a sua opinião sobre quem ganhou o debate, como se estivéssemos a falar de uma partida de futebol, ou de um jogo de hóquei patins lançando sobre as pessoas a sensação de que há vencidos e vencedores nestes debates e acicatando a clubite partidária que facilmente se converte no mais primário sentimento de qualquer claque caceteira e desbragada. Ouvimos os debates, pois ouvimos. Mas o que nos foi dado ouvir foram acusações, defesas, estratégias, uns com mais jeitinho outros com menos, uns mais bem treinados outros nem tanto, uns mais aprumadinhos outros mais populistas mas sobre Portugal nada. Não sei se alguém teve a oportunidade ou tempo ou paciência de ler o relatório que o Banco de Portugal publicou e que veio a público esta semana, quem o leu certamente ficou aterrorizado. Vamos, dentro de muito pouco tempo ter “uma contracção sem precedentes do rendimento real das famílias” é uma das frases que por lá se vê, ou seja dentro de muito pouco tempo as coisas vão ser tremendas para a grande parte das famílias portuguesas, eu diria serão de um dramatismo que no nosso tempo de vida não se terá nunca visto, as pessoas vão passar um mau bocado a sério e pelos vistos ainda não se deram conta disso. Entretanto os nossos políticos vêm para as televisões desfiar as suas mágoas defendendo-se e acusando-se num jogo de arrepiar, sem que a tão propalada verdade sobre o que nos espera a curto, curtíssimo, espaço de tempo tenha sido falada. E os comentadores dedicam-se a esta fantástica actividade que é convencer as pessoas que este ou aquele político venceram o debate. Talvez tenham vencido o jogo, talvez tenham usado uma estratégia bem delineada, talvez tenham conseguido driblar o adversário, mas então e Portugal? Ou o que conta realmente é aparecer nas televisões a dizer várias coisas, mas aparecer? Houve um político da nossa praça que aqui há uns anos disse algures num dos jornais da época – “Digam mal ou bem de mim, o que importa é que falem”. Quer-me parecer que é este o caso, falem deles, dos debates ganhos ou perdidos, das gravatas que usam (ou não), de serem mais isto ou aquilo ou de terem chegado à televisão de carro, de eléctrico ou a pé. O que é preciso é que falem, já os 125 mil milhões que vamos ter de pagar em seis anos (sim, cento e vinte e cinco mil milhões) é coisa de pouca monta, e pelos vistos nenhum tem soluções e as soluções que interessam é não dizer a todos nós como é que vai ser num jogo de sombras sem futuro mas com muito presente, o que vai acontecer no dia 6 de Junho logo se verá que afinal somos portugueses e enquanto o pau vai e vem folgam as costas.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O irlandês


E pronto, o FCP lá ganhou a final de Dublin. Embora eu tenha torcido pelo Sporting de Braga, não pelo nome me recordar algum clube da minha simpatia...... e sim porque seria um prémio ao percurso que fez ao longo desta Liga Europa tornando realidade o que há uns meses era apenas um sonho, mas ao fim de uma época realmente imparável os homens do Porto fizeram aquilo que era sua obrigação e de que toda a gente no fundo estava à espera, ganhar a final do estádio Arena em Dublin, que afinal dá pelo nome de Aviva Stadium já que o Grupo Aviva, o maior grupo segurador britânico e principal fornecedor europeu de seguros de vida e pensões (a Aviva PLC) conseguiu um acordo por 10 anos dos direitos do nome do estádio desde este ano.

Ao mesmo tempo que se jogava esta final memorável (para nós portugueses) Sua Majestade britânica teve mais um dia de visita à Irlanda que, desde a sua independência em 1921 tirada a ferros dessa mesma Inglaterra, nunca tinha sido visitada por um soberano britânico. Esta visita terá os seus objectivos e intenções políticas obviamente, mas quem não se recorda dos tiroteios, das bombas e das mortes em Belfast, em Londonderry e um pouco por toda a Irlanda do Norte? Ainda há pouco tempo os soldados ingleses e o Exército Republicano Irlandês trocavam "mimos" nas ruas, num conflito que tanto quanto sei durou desde os últimos anos do século XVIII com mortos incontáveis, entre os quais Lord Mounttbatten tio de Phillip of Mounttbatten marido da rainha Elizabeth que foi vítima de uma bomba na baía de Donegal na Irlanda, e intolerâncias difíceis de entender, quem se recordar de um filme quase pré histórico de nome "A filha de Ryan" ou do mais recente "Michael Collins" terá certamente ficado com uma pequena ideia do que por lá se passou. Sua Majestade britânica não foi ao estádio Arena ver os fantásticos futebolistas portugueses o que foi uma pena, afinal somos ou não a mais antiga aliança do mundo? Provavelmente não lhe mostraram aquele filme da câmara de Cascais que, a custo, evitou uma invasão militar dos portugueses à Finlândia e deu a conhecer aos portugueses algumas coisas sobre eles próprios de que muitos provavelmente não faziam a mínima ideia.

Tive a oportunidade de visitar a Irlanda no início deste século no âmbito de um grupo de trabalho, o EED (European Emergency Data-Project) que reunia periodicamente em todos países membros da União da época e, naquele ano a reunião decorreu em Galway na Irlanda (que por lá tem o impronunciável nome de Gaillimh), uma cidade fantástica junto ao mar na costa atlântica quase simetricamente oposta a Dublin. As reuniões decorriam o dia todo terminando pouco antes do jantar excepto na sexta feira em que terminavam às hora de almoço, pelo que tive a oportunidade de conhecer um pouco a cidade com alguns confrades do grupo de trabalho e especialmente com um colega e amigo, John Cunningham, que tanto quanto ao longo das inúmeras reuniões entendi, se deixou fazer de amores por uma hospedeira da TAP portuguesa na época residente em Boston pelo que o bom do irlandês volta e meia estava a caminho dos EUA para matar saudades. John é um típico irlandês, ruivo, vermelhusco, bebedor de cerveja, simpático, fanático pelo futebol e pela sua Irlanda natal e, entre uma visita ao Lynch' Castle e a Eyre Square era inevitável a paragem num dos inúmeros pub's que nascem por todo o lado, para uma cervejinha dois dedos de conversa e algumas vezes uma ensurdecedora cantoria de que nunca entendi coisa nenhuma. Na tal sexta feira em que os trabalhos terminaram à hora do almoço, o nosso amigo John levou-nos a um passeio fantástico por uma vila de pescadores próximo de Galway, Kinvarra, e é obrigatorio  visitar o Dunguaire Castle, um castelo numa quase ilha a lembrar o Rei Artur e a Távola Redonda onde se acotovelavam os omnipresentes japoneses e as suas máquinas fotográficas e, para não contrariar a previsibilidade do seu novo trabalho de cicerone entramos num dos inevitáveis pub’s em Kinvarra. Muita conversa, sempre com a hospedeira pelo meio, de cerveja em cerveja todos nós íamos desfiando um rosário de conversa cada vez mais animada pelas canecas que misteriosamente desapareciam e eram imediatamente substituídas por outras, numa sub-reptícia eficácia que fazia parecer que a cerveja nascia ali mesmo nos copos. Ao fim de um número indeterminado de canecas e outras tantas idas ao WC, decidimos que era altura de regressar a Galway pelo que entramos no carro do John para voltar ao hotel, ora os irlandeses têm aquela péssima mania de guiar pela esquerda o que a somar à astronómica quantidade de cerveja consumida ia tornando uma curta viagem (uns 30 minutos) numa verdadeira aventura automobilística que, acabou no fim de uma curva à frente de um carro da polícia. O nosso irlandês não se atrapalhou e entabulou de imediato uma ininteligível conversa com o polícia mediada de grandes gestos e até a sonoridade de uma ambulância em marcha de emergência. No carro já começávamos a imaginar como iríamos conseguir chegar a Galway uma vez que a quantidade de álcool no sangue do John iria marcar certamente um recorde nos anais da polícia irlandesa e nos próximos anos só nos restaria ir, pesarosamente visita-lo à prisão. A conversa prolongou-se e a certa altura o policia chama o outro colega e os três dirigem-se ao carro onde nos encontrávamos, John não se calava naquela verborreia que sabemos existir após libações intensas em nome de Baco e continuava a gesticular. O polícia mete a cabeça no carro e pergunta (traduzindo): -“Um de vocês é português?” Ao meu lado um finlandês (sim um desses terríveis inimigos de Portugal acompanhava-me, faço aqui um acto de contrição) e um alemão entreolharam-se tipo - Eu não sou…E eu senti cá dentro aquele friozinho que a gente sente nos apertos – Que diabo me quer um polícia irlandês? Até nem vou a guiar….

- Sim eu sou português – meio entre dentes

-  Ah um português ! Grande jogo !!!!!

Grande jogo? Que grande jogo? Este tipo também andou nos pub’s? -  pensei eu.

- Que grande jogo se refere ?

- Aquele dos penalties com os ingleses. O rapaz do Manchester marcou um penalty fantástico!

Pois, realmente era verdade. Tinha sido há pouco o campeonato europeu de futebol em Portugal e Cristiano Ronaldo tinha marcado o golo de penalty à Inglaterra naquele jogo memorável no estádio da Luz.

- Sim é verdade, um grande jogador – A falar de futebol no meio de uma estrada da Irlanda com um polícia que ia arranjar mil anos de cadeia ao meu anfitrião?????

- Não tenha dúvidas, se o United (Galway United) o tivesse por cá é que ia ser.

A conversa prosseguiu com o John Cunningham com o braço por cima do ombro do polícia a explicar-lhe que eu era um conhecido médico de uma equipa portuguesa de futebol e estava a numa reunião na Irlanda por causa das ambulâncias a aprender o sistema irlandês de socorro, ao que o polícia ia assentindo com a cabeça compenetradamente com alguns comentários de que não entendi patavina. Ao fim de um bom bocado de conversa, muitas palmadas nas costas e um espalhafatoso aceno John entra no carro e arrancamos para Galway.

- Então, como conseguiste safar-te desta? – Perguntou um dos nossos companheiros

- Nada de especial, é o meu cunhado. É doido por futebol e quis conhecer um compatriota do Ronaldo, sabes quem é?


John Cunningham acabou por casar com a hospedeira da TAP dos seus amores e todos os anos vem a Portugal, segundo ele para “some sun and some wine”, não sei se alguma vez foi apanhado pela polícia irlandesa depois de uma daquelas intermináveis libações de cerveja, por cá da última vez que nos visitou foi durante o campeonato do mundo de futebol na África do Sul e nunca deixou de ir ao Parque das Nações acompanhado pelo cunhado português, agente de uma força de segurança. Ele há destinos do arco da velha……..

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O francês


E lá prenderam o homem! Dominique Strauss-Kahn, director do FMI foi preso no aeroporto John Kennedy a bordo de um avião da Air France quando se preparava para partir para Paris. Segundo um sorridente (e trapalhão) polícia americano nos disse nos telejornais foi acusado de agressão sexual, violação e sequestro, depois de uma empregada do hotel Sofitel, em Nova Iorque, se ter queixado de que foi obrigada a fazer sexo oral e ter sido sodomizada (sic) pelo agora acusado director do FMI. Pelo que ficamos também a saber o homem tinha alguma apetência por actos sexuais complicados, uma jornalista apareceu agora a acusa-lo de, num encontro qualquer ele lhe ter tirado o soutien e tentado viola-la (apareceu agora...), em 2008 uma sua subordinada de nome Piroska Nagy (nome curioso, sem dúvida...), responsável pelas operações em África do FMI terá também sofrido os avanços deste sátiro, embora posteriormente se tenha chegado à conclusão que foi uma relação consentida e até a mulher do senhor director, Anne Sinclair comentou na altura que se trataria de uma "aventura de uma noite" sem qualquer importância. Ora este senhor director do FMI era nem mais nem menos o putativo candidato à sucessão de Nicholas Sarkozy (aquele da Carla Bruni...) que as sondagens dizem que ganharia as eleições para o palácio do Elyseu com uma margem de 61%, contra 39% de Sarkozy, situação esta que nos põe a pensar em teorias da conspiração mais obscuras, conhecendo esta fraqueza do senhor Strauss-Kahn (Mário Soares dixit) nada mais fácil do que plantar uma capitosa empregada de limpeza e fazer o homem sair nú do banho (como deve ser lindo...) à espera dos favores de uma empregadinha de hotel. Não sei se foi assim e também nunca saberemos, o certo é que o sujeito tem a vida feita num oito e a carreira política arrumada, uma boa notícia para o senhor Sarkozy. Mas o que me mexeu cá com as meninges foi saber que o quartinho onde o senhor Strauss-Kahn se alojava tinha um custo diário de 2000€/dia, a sua apetência especial por uma vida luxuosa e lembrar-me dos títulos dos jornais há pouco tempo: "DSK defende violentas políticas de austeridade na Irlanda e na Grécia" ou " "Novo chefe do FMI inicia funções com o despedimento de 600 funcionários da instituição"  a que apetecia juntar um outro título mais recente: "Ajuda a países europeus aumentam lucros do FMI em 63%", estes 63% correspondem a cerca 370 milhões de euros (sem contar com os juros do empréstimo a Portugal), nada mau tendo em conta que vem de uma perda de cerca de 132 milhões de euros em 2008 e tem vindo sempre a subir de lucros, nada a fazer os tipos emprestam dinheiro e ganham que se farta com isso, faz lembrar aquela música de Alberto Janes de que a Amália fez um sucesso nos anos 70 em que: "....foi ao usurário empenhar umas coisinhas", e na verdade fico com a sensação que temos alguma culpa no ataque do senhor DSK à pobrezinha da empregada do hotel já que uma parte dos 2000€ que o homem pagava, por dia pelo quarto vai ser paga por nós. Não faço a mínima ideia do que teremos ido empenhar ao usurário, para além dos ordenados, das pensões, dos impostos, etc, etc e sobretudo quem é que lá foi empenhar as "coisinhas", não foram certamente os pensionistas ou as pessoas que trabalham, mais uma vez o sr. Henrique Monteiro põe bem claro o que todos sabemos no seu último artigo de opinião: - "Mas não foi com pensionistas ou trabalhadores que houve derrapagens e se cometeram excessos. Foram sim estradas, inúteis, projectos inúteis, consultadorias inúteis, propaganda inútil, e boys inúteis que deram cabo do país. Além de inúteis promiscuidades com banqueiros e especuladores, com empresas do regime, ditadorzecos vários, etc. - , que em nada contribuíram para o louvado Estado social e apenas minaram a coesão do país". Na verdade o que acontece é que as pessoas se vêm obrigadas a ter de pagar o dinheiro que o(s) Governo(s) desperdiçou, e agora, por muito que se pregue e reclame, por muito que a gente fale e se lamente a factura está aí não há volta a dar-lhe, vamos mesmo ter de pagar o modesto quartinho que o senhor DSK alugou no Sofitel de Nova Iorque. É claro que nestas coisas de austeridade e apertar o cinto e andarmos a contar os tostões há sempre a necessidade de ir preparando a cabeça das pessoas encontrando culpados e gastadores. Vem isto a propósito das pensões milionárias de que ciclicamente vimos ouvindo falar, em reportagens e comentários demagógicos e intencionalmente tendenciosos que a nossa comunicação social tão bem sabe trabalhar. Gostava que se definisse o que são pensões milionárias, falar de uma coisa que não tem definição apenas pelo seu valor monetário ou é ignorância ou má fé ou (o mais provável) as duas coisas juntas. Uma pensão milionária o que é ? É a pensão de alguém que descontou toda a vida no seu ordenado determinado valor para depois usufruir dele na altura da reforma ? É a pensão que alguém recebe por ter desempenhado funções em orgãos de soberania durante meia dúzia de anos - ou nalguns casos durante meses como já se viu ? Sempre pensei que o que as pessoas recebem na altura da sua aposentação iria ser o correspondente aquilo que descontaram durante a sua vida activa, ou seja quem desconta mais recebe mais e quem desconta menos recebe menos, parece-me um princípio básico, mas nada mais fácil do que fazer acreditar um país, onde as pensões médias rondam os 600€, que a culpa é dos que recebem pensões ditas milionárias como se estes andassem a roubar descaradamente à maioria dos portugueses o dinheiro das suas pensões. A talhe de foice, quando se definir o que são pensões milionárias gostaria também que se esclarecesse quanto pagam os contribuintes aos partidos para continuarem a existir como tal, qual é o valor que cada partido recebe do orçamento de estado, quanto paga cada um de nós para os políticos, fala-se muito dos desmandos da função pública, do uso incontrolado dos dinheiros dos contribuintes mas nunca se fala dos dinheiros dos partidos, afinal também eles funcionários públicos pagos com o dinheirinho de todos nós. Vá lá digam-nos quanto recebe cada partido na fatia que lhes cabe do orçamento de estado, e assim começamos a chegar à propalada transparência de tanto se ouve falar  e de que todos se gabam de ser os paladinos. Ou têm medo de ter de pagar, como o comum dos mortais, uma fatia do quarto do senhor Dominique Strauss-Kahn?