segunda-feira, 9 de maio de 2011

O argentino


No fim de semana o inevitável Expresso (inevitável para mim que compro aquela sacada de papel religiosamente todas as semanas, ainda não entendi bem se por hábito se por gosto….), o inevitável Expresso, dizia eu, tinha os habituais artigos de opinião e a páginas tantas lá vinha mais um senhor a falar da crise e do FMI, falo de um pequeno artigo de opinião do senhor Henrique Monteiro, nada de novo no artigo a não ser que a certa altura fala brevemente da história da orquestra do Teatro Scala, de Milão onde Riccardo Muti que ali foi maestro durante 19 anos acabou por ser saneado (sic) em 2005, tendo sido substituído pelo maestro argentino Daniel Barenboim, tanto quanto julgo saber em Maio de 2006, não sei se se recordam mas este Barenboim em 1999 foi o co-fundador, juntamente com Edward Said, da orquestra West-Eastern Divan Orchestra que junta músicos do Egipto, Irão, Israel, Jordânia, Líbano, Palestina e Síria, na época muito falada pela comunicação social. O maestro nasceu em Buenos Aires em 1942 descendente de judeus russos, para quem, como se sabe, a vida não corria lá muito bem na mãe pátria sob a batuta de um simpático senhor que se chamava Joseph Stalin. Depois de ter dedicado uma grande parte da sua vida a reger orquestras um pouco por todo o mundo, de ser um executante de música brilhante e de ter sido director de várias orquestras na Europa e Estados Unidos, no início dos anos 90 encontra-se no lobby de um hotel de Londres com um intelectual e crítico literário, Edward Said, professor da Universidade da Columbia nos Estados Unidos e um apaixonado pela música clássica e também pela causa palestiniana tendo sido membro do Conselho Nacional Palestiniano, causa a que esteve ligado até à morte em 2003. Estes dois homens, um judeu (que possui as nacionalidades argentina, israelita e espanhola) e um palestiniano militante convicto conversam muito desde que se encontraram em Londres e, já no final dos anos 90 criam a já referida West-Eastern Divan Orchestra juntando jovens de diferentes nacionalidades e, aparentemente de campos políticos completamente opostos do Médio Oriente intencionalmente para passar a mensagem de que era possível a pessoas com pensamento muito diferente e até inimigos desenvolver, em conjunto uma actividade importante e de enorme qualidade. A West-Eastern Divan Orchestra tem dado concertos um pouco por todo o mundo sendo o mais mediático de que provavelmente todos se lembrarão o concerto de Ramallah em 2004.

Ora nós por cá dedicamo-nos a esta actividade da maledicência, da intriga e da inimizade figadal alegremente, esquecendo-nos do país e do povo de quem todos falam mas a quem dão uma importância no mínimo discutível. Um diz que com o outro nem pensar em trabalhar, o outro diz que aquele é um troca tintas, aparece um outro que só pensa nos pequenos agricultores, nas pensões e nas PME e beija criancinhas e peixeiras pelas feiras, outros contestam tudo e todos na sua intectualidade caviar, outros ainda continuam pendurados nas reminiscências de 1917, e ainda outros ocupam televisões de vassoura na mão. Fantástico! No fim disto tudo que diabo se vai passar? Será que podemos pedir ajuda ao Sr. Barenboim? É que escaldado como estou com as contas que periodicamente me vão apresentando começo a ficar preocupado com a factura que virá aí, já não chega a que aqueles senhores das sandes de fiambre nos apresentaram ainda vai aparecer a que os desentendimentos pessoais e tricas de comadres vão gerar.

O pequeno artigo do Sr. Henrique Medina no Expresso põe também a questão de, o Teatro Scala ao nomear um argentino para dirigir a sua orquestra resolveu um problema, nós temos o problema de não poder abrir um concurso internacional para primeiro-ministro. É pena. Cumprir do acordo firmado entre o governo de Portugal e a tríade de senhores simpáticos não vai ser pêra doce, a cada três meses cá estarão a ver se as continhas estão em a correr de forma a receberem as massas que benevolamente nos emprestaram e vai ser uma chatice colocar os boys à sorrelfa ou criar mais algum instituto público ou alto comissariado, sem dar nas vistas da dita tríade. Se abríssemos um concurso internacional provavelmente os concorrentes não seriam muitos (quem quer pegar nesta coisa?) mas alguns haveria e mais difícil seria ao clubismo partidário colonizar alguém que viria sabe o Criador de onde e que apenas teria de cumprir o que o programa de governo já elaborado estipula sem mais conversas, contratava-se o dito gestor por quatro anos (três para cumprir o acordo e mais um para deixar um trabalho asseado) e ao fim desse tempo ia à vida dele que aturar isto por mais de quatro anos não é tarefa fácil. Ao fim desse tempo talvez já tivéssemos algum juízo e respeito pelos outros e deixássemos de andar às cotoveladas aos vizinhos a ver se também nós nos safávamos. Mas então propõe-se que um estrangeiro venha gerir os destinos da nossa pátria?!?!?!?!? Que sacrilégio!!!!!!!!!!!!! Perdeu-se o orgulho de sermos a nação mais antiga da Europa e das mais antigas do mundo com mais de oito séculos de história??????  Então nós não somos os mais indicados para gerir os nossos próprios destinos e decidir o que queremos fazer das nossas vidas????  Não, não somos. Isso já ficou mais que provado até à saciedade.

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